segunda-feira, 13 de junho de 2011

Artesanato à beira-mar

Por Elaine Quinderé e Felipe Macedo


A Avenida Beira-mar é sem dúvida um dos cartões postais mais conhecidos da nossa cidade, diariamente passam milhares de pessoas seja para fazer uma caminhada, conversar, apreciar o mar ou até mesmo tomar um sorvete. Mas é a noite que a nosso tão conhecido cartão postal se torna mais vivo. Com atrações únicas como o menino prateado, sanfoneiros, comediantes e pessoas que quebram cocos com a mão ou cabeça. Se surpreender por lá não é difícil, mas o melhor de lá é, sem dúvida, a feirinha de artesanato ou, como também é conhecida, feirinha da Beira-mar.










São mais de 600 barracas armadas estrategicamente no coração da avenida. Lá você encontra de tudo, desde produtos locais como castanha de caju no quilo até bolsas de couro. Para quem vê todos aqueles quadrados à noite procurando vender o seu produto, não imagina o trabalho que dá pra organizar aquilo tudo. Por isso, A equipe Bastidores foi até o encontro dos que fazem a feira para conhecer seu dia a dia e acompanhar desde o processo de montagem das barracas até a chegada dos consumidores.

A Chegada

O trabalho dos feirantes começa logo no começo da tarde. Trazidos por eles mesmos ou então por pessoas contratadas, é um vai e vem frenético de carrinhos de mão que parece não ter fim.










São três garagens para armazenar tanto carrinho assim. De acordo com Flávio Ferreira de Souza, auxiliar de gerente de estacionamento, são duzentos carrinhos que ficam aqui nessa garagem e existem mais outras duas para comportar o resto. De acordo com ele, todos os feirantes podem pegar seu carrinho a partir das 14h e entregar até meia noite, “pois se a gente não estabelecer um horário limite, tem uns que só voltam de madrugada”, explica. Na época das férias que o movimento é maior, o horário para colocar o carrinho de volta na garagem é maior, mas ainda sim, rigoroso.

Com pessoas vigiando do lado de fora, todos os feirantes pagam um determinado valor semanal, para poderem guardar os seus pertences nas garagens, o valor não é divulgado.

A montagem





O horário pra começar é o próprio feirante que decide. Alguns chegam às 14 horas. Outros preferem chegar às 16 horas. Para montar a barraca alguns demoram meia hora, outros já demoram mais tempo, mas isso varia com o tipo de produto a ser vendido.

Dona Clarisse, vendedora de produtos artesanais, leva menos de meia hora para ajeitar toda sua barraca e para desmontar, leva menos ainda. “Coisa de 15 minutos ou menos”, explica.

Já seu Antonio, vendedor de produtos regionais, leva quase uma hora para ajeitar toda a sua barraca. “É muito produto pra colocar pra vender, tem que deixar bonito pro pessoal ver, né?”, conclui.

Quanto ao fim do expediente da feirinha, a grande maioria dos que trabalham lá começam a fechar as barracas a partir das 22 horas. "Na época das férias, todos os feirantes ficam até mais tarde, chegando a ficar às vezes até meia noite. Na época das férias a gente fica com a barraca aberta até um pouco mais tarde, porque é muito turista que passa por aqui”, afirma Andrea, funcionária de uma barraca que vende roupas femininas.

É da feirinha da Beira-Mar que muitos tiram o sustento. Tem gente que tem três filhos pra criar, já outros sustentam filhos que moram fora do Brasil. Com o que é vendido na feirinha, muito comerciante não precisa de um segundo emprego pra completar a renda mensal. E além do mais, o ritmo e carga horária da feira não permitem um segundo emprego aos que nela trabalham, já que ela é de domingo a domingo, 365 dias por ano, sem direito a férias ou feriados.

Além do ritmo intenso da feira, outra grande reclamação dos feirantes é a falta de iluminação. Nenhuma das barracas possui energia própria e todos usam baterias de carro pra iluminar os produtos. Outro grande problema é a falta de segurança. Quem faz a vigilância das barracas são os próprios comerciantes, que ficam de olho na própria barraca e também na do vizinho. Afinal, com tanta gente que trabalha junto a três anos, 15 anos e, até mesmo, 30 anos, todos já adquiriram algum tipo de confiança um no outro.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Jomara Cid: os desafios de ser empreendedora

Quando fazia um temido trabalho do curso de Estilismo e Moda, na Faculdade Marista, Jomara Cid mal imaginava que ali estava seu futuro ofício e paixão. Ela, que havia ficado responsável por desenvolver chapéus, surpreendeu professores e alunos. Prestes a abrir seu ateliê, Jomara contou ao Notícias de Bastidor como se encantou pelo mundo dos acessórios.





Apesar do amor pelos chapéus, Jomara é mais conhecida por suas headbands com aplicação de flores em couro. Mas ela não desiste. Aos poucos, pitadas de ousadia surgem em suas coleções. As clientes, vão se acostumando com acessórios maiores e mais ousados. O resultado disso são coleções com maior variedade e diversidade de materiais usados, como já aconteceu com a última coleção de verão.



A profissionalização do trabalho, no entanto, não veio de uma hora para a outra. Antes de iniciar um negócio formal, Jomara procurou ler bastante e fez cursos de gestão de negócio no SEBRAE. A foto que abre esta reportagem é da Rua Dr. João de Deus, 200A, endereço onde em breve o sonho da designer será realizado. "Sempre quis uma loja de rua. Não queria ser mais uma dentro de um shopping. No início eu procurava por uma casa, mas não tinha como arcar com algo muito caro mais a reforma. Então encontrei esse ponto perto de casa e inauguramos em julho.

Para saber um pouco mais sobre a próxima coleção de Jomara, que será lançada junto com o ateliê, assista a apresentação de slides enquanto ouve o áudio para entender como funciona o processo de criação da designer. Porém, antes de começar formalmente seu negócio, Jomara embarca nos próximos dias para o Rio de Janeiro, Lá, fará um curso intensivo com Denis Linhares, maior chapeleiro do Brasil.

A indústria do São João


(Grapel-Associação Cultural Rita Costa)


Foi numa noite igual a esta, que tu me deste o teu coração, o céu estava em festa, por que era noite de São João. Todos os anos o Ceará se transforma no estado da Festa Junina. A paixão, o desejo a tradição é o que move o povo nesse período junino. Mas por trás de tanta beleza, criatividade e animação das apresentações existem toda uma indústria que organiza todos os detalhes para que a cada ano o São João seja mais bonito.

O trabalho dos bastidores começa bem antes das luzes brilharem nos palcos. Em meados de fevereiro é onde começa toda a organização, reuniões para decidir desde o tema a ser homenageado, ao figurino, os músicos que irão tocar nas apresentações e os festivais que pretendem participar.

A ex brincante e coordenadora do escritório de cultura popular, Marcela Sampaio, disse que o Ceará é o estado que mais produz quadrilhas e festivais no Brasil. "Pra se ter uma idéia, 70% dos bairros de Fortaleza possuem quadrilhas e festivais. E em todo o estado é contabilizada uma média de um pouco mais de 450 grupos juninos" diz com muita satisfação.

A quadrilha Arraia da Liberdade, da cidade de Redenção, tem sem grupo composto por 20 casais. O grupo já se apresenta há 10 anos por todo o estado do Ceará, espalhando alegria e enriquecendo a cultura junina no estado.

O organizador, João Victor disse que é muito trabalhoso colocar uma quadrilha pra dançar. “Alem do cansaço, tem também a dificuldade em conseguir apoio financeiro”. Victor completo dizendo que apesar de todas as dificuldades, é recompensador vê as pessoas dançando com amor. “Eu não me vejo sem esse grupo, já fazem parte da minha vida” disse com muita satisfação.



O cenário dos grupos juninos no estado tem se transformado bastante. A principal mudança foi nas roupas, que antes custavam bem barato, em torno de 50 reais se tinha uma roupa de quadrilha, hoje é preciso desembolsar bem mais. O vestido das brincantes que não são destaque sai em média de 350 reais, e tudo isso custeado pelo próprio brincante. Os vestidos se elitizaram e passaram da chita, para o cetim, seda, e muito brilho. Uma noiva de quadrilha, gasta em um vestido que se aproxima do vestido de uma noiva da vida real, em torno de 4 mil reais. "Várias quadrilhas buscaram inspirações de vestidos luxuosos em outras regiões. Mas essas quadrilhas elitizadas, são muito mecânicas, tudo muito na hora certa" diz Gilberto.

Algumas quadrilhas chegam à gastar 200 mil reais ou mais durante todo o período junino. "Quadrilhas que chegam a esse patamar, não se sustentam por muito tempo, pois fica difícil conseguir apoio" afirma Gilberto, ex-presidente de um dos festivais mais importantes do estado, o Ceará Junino.

Apesar de tantas mudanças, o tradicional ainda possue força. Diferente da mecanização do moderno, a quadrilha temática/tradicional é caracterizada pela emoção que os brincantes passam, sem esquecer das roupas simples de chita e o chapéu de couro.

Tradicional, elitisado, não importa as mudanças que façam no estilo, o que vale é curtir o momento com amor, e celebrar a cultura.


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POr Tainá NObre, Jorge Pedro e Carlos Augusto

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Recuperando vidas


Por Vivianne Rodrigues e Karine Viana



clique na foto e veja a galeria completa.


Fundado há cinco anos, com o objetivo de atender pacientes vítimas de queimadura, o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), oferece assistência após alta hospitalar daqueles continuam necessitando de tratamento. No local, o paciente recebe ajuda fisioterapeutica, psicológica, terapia ocupacional, além de receber cuidado de um especialista em malhas e cirurgiões plásticos.
99% dos pacientes que chegam ao IAQ são encaminhados do Instituto Dr. José Frota (IJF). A partir daí, de acordo com sua necessidade, os pacientes passam por uma triagem multiprofissional, que é diagnostica pelos médicos, sendo encaminhados para o tratamento específico. Por mês, são feitos aproximadamente 400 atendimentos, já que alguns pacientes são atendidos mais de uma vez.

Segundo o Rafaele Borges, chefe do setor de fisioterapia do IAQ, a principal necessidade do paciente queimado é a nível psicológico, já que é uma situação que mexe muito com o emocional. Além disso, o tratamento fisioterapêutico é fundamental para sua reabilitação. Para a fisioterapeuta, a principal dificuldade do Instituto foi um local para instalar a sede, onde o atendimento pudesse ser realizado. "Antes nós atendíamos no próprio IJF, num ambulatório pequenininho, então a gente não conseguia atender todos os pacientes; essa era a nossa maior dificuldade, mas conseguimos", comemora.
Sobre os desafios de manter uma ONG, o Doutor Edmar Maciel, presidente do IAQ e cirurgião plástico, ressalta que a falta de vínculo com uma esfera federal, municipal ou estadual prejudica a manutenção financeira do órgão. Ele afirma que quando se fala em ONG já se pensa em desvio de recursos, principalmente da esfera pública, o que não é o caso do Instituto, que não possui nenhum recurso desse tipo. "Tudo isso mancha muito quando você vem fazendo algum trabalho com seriedade, isso gera uma dificuldade na credibilidade perante aos parceiros que possam vir", explica.




Visualizar IAQ - Instituto de Apoio ao Queimado em um mapa maior

Segundo Maciel, existe uma dificuldade para se conseguir empresas parceiras e que se faz necessário manter um bom atendimento e um bom nível de humanização; e é fundamental estar sempre prestando contas das suas atividades. Ainda assim, Maciel afirma sempre que procura as portas estão abertas.

"São 24 parceiros, 24 empresas mantenedoras, que foram conseguidos nos últimos dois anos, após a inauguração da nossa sede", ressalta. A meta do IAQ é continuar mantendo esses parceiros e alavancar novos parceiros para manter o trabalho que vem sendo feito: um atendimento com qualidade e humanização.

Antônia Lucinda, paciente, fala sobre o tratamento que recebe no IAQ. Ela conheceu o Instituto após ser recomendada pelos médicos do IJF. "Eu acho ótimo o serviço daqui. Está me ajudando bastante. É médico, cirurgião plástico e fisioterapeuta, são maravilhosos. A única coisa que não tem aqui é psicóloga, mas já estão providenciando", diz.
A respeito da falta de psicólogo, doutor Maciel afirma que o atendimento psicológico voltará em agosto e só foi interrompido em janeiro em virtude da implantação do atendimento da faculdade FANOR no local.

Já Ângelo Vicente Passatori, também paciente, conheceu o IAQ através de um médico que o encaminhou ao Instituto. "Aqui não tem nada de ruim. Acho que tá faltando apenas poucos equipamentos, como por exemplo, um que no meu caso ajudaria muito. Eu tenho a pele presa e esse equipamento ajudaria justamente a liberar a pele", conta.
Ângelo conta que chegou ao IAQ psicologicamente abalado. "Teve um dia que quis até jogar meu carro contra o posto, mas no dia a dia vi que podia melhorar", confessa. Ele afirma que para se recuperar é preciso auto-estima, porque queimadura é uma coisa ruim. "E olha que no meu caso é só uma mão, imagina uma pessoa que queima 50%", completa.

No dia 27 de maio, o cantor Fagner fez um show beneficente em prol do IAQ. O evento comemorou os cinco anos de funcionamento e contribuiu para mostrar a consolidação do trabalho no estado, tanto para empresas, como para o público em geral. "A imprensa deu uma cobertura maravilhosa. Pelo lado financeiro foi muito bom porque foi uma verba que entrou para o Instituto, que ajuda não só na manutenção, mas também em compra de equipamentos ou coisas que a gente necessite do gênero", conclui doutor Edmar.



Serviço:

Instituto de Apoio ao Queimado

Endereço: Rua Visconde de Sabóia, 75 - Centro

Telefone: (85) 3251-1093

Site: http://www.iaq.org.br

apoioaoqueimado@yahoo.com.br

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Iguatemi de portas fechadas

Por Helton Amâncio e Eva Cardoso

O shopping Iguatemi abriu suas portas e mostrou o que acontece horas antes de começar sua rotina. Quem nos recebeu foi Luís Carlos de Freitas, assessor de imprensa do shopping. Juntos percorremos corredores, lojas e locais jamais visitados por seus consumidores. Para quem pensa que o local fica vazio, se engana, pois dezenas de pessoas trabalham dia e noite para que tudo permaneça organizado, limpo e agradável para receber seus clientes. O shopping Iguatemi funciona há 29 anos. São mais de 300 lojas que se dividem entre compras, lazer e serviços, em mais de 90 mil metros quadrados.

Aos poucos, os funcionários das lojas vão chegando e cumprindo suas tarefas, em poucos minutos as portas se abrem e quando chega o horário de funcionamento, como um passe de mágica, as lojas e o shopping estão prontos para receber seu público.

Mário Lopes é funcionário de uma das lojas há 4 anos, segundo ele, uma média de 55 clientes passam por lá diariamente. Uma equipe de 3 funcionários chega às 8h da manhã e prepara o ambiente, cada um fica responsável por uma sessão. “A gente tenta deixar organizado no dia anterior, mas sempre falta alguns detalhes, por isso chegamos mais cedo para deixar tudo em ordem.”

São 550 funcionários, divididos nos setores de segurança, administração, manutenção e serviços gerais. Eles se revesam numa escala de 8 horas de trabalho, que começa antes do shopping abrir. Maria Liduína, trabalha há 19 anos no setor de serviços gerais. Segundo ela, cada funcionário atua sempre no mesmo espaço. “Eu chego aqui 6h da manhã, fico até às 2h da tarde, sou responsável pelo setor aqui em baixo, limpo as lixeiras, varro os corredores, aspiro os tapetes e limpo as portas”.


Paulo Bandeira, gerente de manutenção, é responsável pela organização e reparos do shopping. “Tudo tem que está pronto até às 10h da manhã, momento em que o shopping abre, para isso temos equipes responsáveis pela higienização do espaço, troca de lâmpadas, manutenção dos motores elétricos que abastecem os ar condicionados e toda a parte de estrutura”. Depois que o shopping abre, essa equipe diminui, mas continua pronta para atender qualquer solicitação.




O Iguatemi pensando no bem estar do planeta

Dentre tantos detalhes que observamos nos bastidores do Iguatemi, dois devem ser ressaltados: o Programa de Água de Reuso, primeira estação de esgoto particular do Ceará, onde passa todo o esgoto do shopping que é transformado em água 100% tratada e reutilizável para refrigeração e irrigação do jardim.

O outro é a Estação de Pré-Reciclagem. Por mês, 39,6 toneladas de resíduos sólidos são direcionadas à EPR. Em 2010, a arrecadação foi de 475 toneladas. Há dois anos, todo o material reciclável coletado no shopping é destinado a Associação dos Catadores do Jangurussu (Ascajan). Em vez de jogados no lixo, itens como papelão, papel branco, plástico e latas são encaminhados para empresas especializadas que tratam o material, transformando-o novamente em matéria prima.





















O rock é mesmo pesado

Por Filipe Dias e Deborah Milhome


Um lugar escondido, nas entranhas de um prédio de aspecto abandonado. Este é o Zueira Vip, local em que o Movimento Independente de Rock e Cultura (Projeto MIRC) organizou o 17º Night Of Rock, que aconteceu no sábado, 28 de maio. O lugar fica no bairro Henrique Jorge, na rua Audízio Pinheiro, e funciona, de dia, como um pequeno shopping center.


Engana-se quem imagina que fazer um show é algo simples e recheado de glamour. As exigências de camarim e os ingressos vendidos com antecipação são privilégio de poucos. Para quem está começando, é exigido muito esforço para colaborar com as bandas da região, numa espécie de cooperativa, para que todas possam crescer juntas. Várias pessoas se mobilizam para que os artistas brilhem no palco e, geralmente, esses salvaguardas dos músicos passam despercebidos por quem acompanha o espetáculo.

A organização

O Projeto MIRC é um dos vários movimentos organizados que reúnem bandas de rock pelo Estado. Além deles, podemos citar a Cooperativa Underground do Bom Jardim (Cunder), e a mais conhecida, a Associação Cultural Cearense do Rock (ACR). Esta última é a organizadora do maior festival underground do Nordeste, o Forcaos, e ajuda, em parceria com a Prefeitura de Fortaleza, a organizar a Feira da Música.

Mas o MIRC, que surgiu por iniciativa de alguns jovens dos bairros Henrique Jorge e João XXIII em 2005, não busca, ou sequer cogita, apoio governamental. "Nosso intuito é promover a cultura do rock no Ceará e também prestar apoio a projetos sociais", defende Antônio Paulo, presidente do movimento. Paulo Underground, como é conhecido, foi um dos fundadores do Projeto, e se orgulha do status obtido. "Já organizamos mais de cinquenta shows, em alguns deles conseguimos colocar trezentas pessoas. Temos uma parceria com o Instituto Inespec [escola mantida por uma sociedade beneficente que ensina crianças com necessidades especiais], e, graças à webradio deles, podemos divulgar o som dos nossos parceiros".

O vice-presidente do Projeto MIRC, Renato Cícero, concedeu uma entrevista para o Notícias de Bastidor, descrevendo um pouco mais das dificuldades em organizar um show. Renato fala das superações que o projeto obteve ao longo dos anos, e da concorrência com outros produtores. Confira!



As bandas associadas ao projeto, quinze ao todo, não precisam pagar para fazer parte do MIRC. A colaboração se dá por venda de ingressos: cada grupo deverá vender uma cota pré-determinada. O planejamento dos eventos se dá através de reuniões, que ocorrem duas vezes por semana, e, nestas reuniões, são decididos os nomes de quem irá fazer o próximo evento. E é pelas mãos dos próprios membros que a divulgação é feita: um faz o cartaz, outro cuida das redes sociais... e assim vai, até o grande dia.

Montando o palco

O show começava às 19h, mas, duas horas antes, o Zueira Vip já estava movimentado. Pessoas carregando caixas de som, peças de bateria, instrumentos e luzes andavam de lá para cá, montando e desmontando, subindo e descendo escada...



É aí que o trabalho do roadie começa.

Roadie, para quem não sabe, é uma palavra em inglês que deriva de road. Significa, em tradução livre, aquele que vive pelas estradas, acompanhando uma banda (ou uma companhia de teatro, ou qualquer apresentação artística) onde quer que ela vá.

No Brasil, quem exercia esse trabalho era chamado de "bigu" que, em bom português, quer dizer caroneiro. Por isso, os roadies preferem que a sua função seja nomeada pela palavra estrangeira. "Passa mais profissionalismo", argumenta Edson Oliveira Leite, 22, um dos que trabalharam como roadie naquela noite. Ele participa do Projeto MIRC desde sua fundação, e, quando não está em cima dos palcos com sua banda, a Falácia, ajuda os colegas de movimento. "Eu não tenho nenhum ganho financeiro. Ajudo porque aprendo bastante, e porque isso é uma maneira de colaborar com a cena".

Acabou a montagem do palco, então é a hora dos engenheiros de som entrarem em ação. Eles precisam testar cada equipamento e equalizá-lo na mesa de som, para que o áudio das bandas saia o mais perfeito possível. É aí que a experiência como músico faz a diferença, segundo Edson. "Como a gente sabe o que esperar da aparelhagem, podemos pré-equalizar tudo, para, quando o músico chegar, ele poder adequar o equipamento ao som que ele tira", explica.

"Senhoras e senhores, com vocês..."


As luzes se fecham. A primeira banda testou todos os equipamentos e volumes, ou, como se diz no jargão musical, "passou o som". O público começa a chegar e a fazer barulho. E, quando o guitarrista dá o primeiro acorde, pode-se pensar: "acabou o trabalho dos roadies, agora é só esperar o show acabar"...

Ledo engano. A hora em que o evento começa é a mais importante. Os roadies precisam estar atentos e a postos para subir rapidamente no palco caso um microfone, caixa ou estante apresente defeito. "O cara tem que ser ágil. Quebrou a corda do guitarrista, você já tem que subir, com uma nova na mão, pro cara trocar. O show não pode parar, não", falou Edson.

Nesta noite do dia 28, nenhuma ocorrência. Os engenheiros de som e os roadies trocam ideias sobre as bandas em palco, comentando sonoridade e postura. Um deles preferia conversar sobre o regime comunista de Cuba, defendendo a posição castrista de manutenção do poder. "Os caras têm educação e saúde de primeiro mundo, como que eles podem estar piores que a gente?"

No mais, foi tudo tranquilo. As únicas pessoas que ficaram se mexendo o tempo todo foram os fãs de rock.

Banda Evernight (Foto: Divulgação/MIRC)

"...Obrigado, e até a próxima!"


Assim que essas palavras são pronunciadas, os organizadores, roadies e engenheiros de som correm para desmontar tudo. E também são nessas horas que o espírito de cooperativismo entra: todos ajudam a varrer e a desligar equipamentos, para que, já livres, possam fazer o apurado do caixa e pagar ao dono do som. O presidente do Projeto MIRC não quis citar valores exatos, mas admitiu que o custo de produção de um show como esse beira os R$ 1 mil. "Mas somos auto-sustentáveis. Geralmente dá para pagar o som e ainda conseguimos arrecadar fundos que nos ajudam a manter o projeto", diz Paulo Underground.

O foco passa a ser então o próximo evento, o 18º Night Of Rock, no dia 2 de julho, no mesmo local. E o rock pesado começa outra vez.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uso de suplementos e esteróides: diferenças que podem custar uma vida


Por Luis Márcio Domingues

Para adquirir um corpo perfeito, com músculos definidos e rígidos, os jovens da atual geração estão se tornando grandes consumidores de esteróides anabolizantes. Os resultados estéticos provocados por essas drogas do hormônio masculino são praticamente imediatos, mas trazem sérios riscos à saúde, podendo, inclusive, causar a morte.

Esses produtos são em sua maioria ilegais no Brasil, mas nem por isso difíceis de encontrar. Frequentador de academia desde antes dos 18 anos, o estudante Emerson (nome fictício para preservar identidade do entrevistado) revela que, com um pouco de observação, é possível identificar com quem adquirir os anabolizantes: "Qualquer academia sempre tem alguém que você pode comprar, é só saber procurar".

Ainda segundo Emerson, o comércio é feito de forma livre, sem nenhuma restrição, mesmo que o comprador aparente ser menor de idade e não ter conhecimento dos riscos que ele está assumindo: "Os 'caras' querem é vender, qualquer um que chega eles vendem sem problema nenhum".

Início de um 'ciclo'

Muitos começam como (  o entrevistado) nosso pesonagem. Ainda jovens, eles entram na academia e descobrem o mundo dos estimulantes musculares. Em pouco tempo encontram-se viciados no consumo e não conseguem mais largar. Como confirma Emerson: "Comecei só experimentando. Vi que dava resultado muito rápido e muita vontade de malhar. Vai virando um ciclo vicioso, você não consegue ir para a academia sem tomar, sempre tem que tá tomando alguma coisa".

Não existe uma pesquisa que estime o número de usuários de anabolizantes no Brasil, mas sabe-se que a preferência é do público masculino, com idade entre 18 e 34 anos. Nos supermercados e farmácias, é possível encontrar alguns produtos voltados para a melhoria do rendimento físico dos atletas. Eles são vendidos sem restrição e aprovados pela Anvisa. São os chamados suplementos alimentares, mas não possuem eficácia comprovada.

Segundo a educadora física, Angélica Mota, eles podem ser ingeridos sem problema nenhum. Porém, diferente do que muitos pensam, não é o instrutor da academia que deve receitar os produtos, como Angélica ressalva: "O educador físico só pode passar treinos de musculação. Ele não deve receitar suplementos, muito menos qualquer outro tipo de substâncias. Se você quer ganhar massa muscular, deve-se procurar um nutricionista e ele vai passar proteína ou qualquer outra coisa".

Ouça o depoimento de Angélica
Mas qual seria o tempo certo para procurar um profissional? Angélica explica que cada corpo reage de uma forma aos exercícios. Por isso não há um período indicado para início de uma suplementação, mas "geralmente, com 2 ou 3 meses, a pessoa pode começar a sentir um cansaço maior, desgaste, e, caso queira, pode procurar um nutricionista para que ele passe uma dieta ideal".

Preços

O grande atrativo dos anabolizantes, além dos resultados imediatos, ainda está no bolso do comprador. Gasta-se praticamente a mesma quantia dos produtos liberados - entre R$ 150 e R$ 200-, ou até menos. Assim, os novatos são tentados a consumí-los de forma indevida. Resta saber se vale a pena ter um corpo definido em pouco tempo e em troca de algo muito maior, a própria vida.

Entrevista com Emerson: "Não tenho mais a metade da força que em outras épocas. As dores de cabeça são frequentes".

Quando você começou a malhar e tomar alguma coisa?

Eu malhei de 2005 a 2007 sem tomar nada. Comecei com creatina e suplemento mesmo. Depois ciclei uma vez M-drol (anabolizante para atingir um músculo magro) com 18 anos. Ciclei de novo com 19, e mais uma vez com 20. Também tomei Dianabol Russo (methandrostenolone), que é proibido no Brasil.

O que te incentivou a tomar?

Eu comecei so experimentando. Vi que dava resultado muito rápido e muita vontade de malhar. Vai virando um ciclo vicioso, você nao consegue malhar sem tomar nada, sempre tem que tá tomando alguma coisa. O psicológico fica achando que tá crescendo, e muitas vezes nem está.

É fácil de encontrar esses produtos no Brasil?

Muito fácil. Qualquer academia sempre tem alguém que você pode comprar, é só saber procurar.

Mesmo se você parece menor de idade?

Sim. Os 'caras' querem é vender. Qualquer um que chega eles vendem sem problema nenhum.

E os efeitos no corpo?

Colateral você quase nunca sente no começo, só sente coisa boa, força, disposição. Dá muito 'gás' na academia. Mas com o tempo vem a fadiga. Não pode dar uma corrida que você já fica com falta de ar. Também dá irritabilidade e, em alguns casos, queda de cabelo e perda do libido.

Você já teve algum problema?

Muita fraqueza. Hoje não tenho mais a metade da força que em outras épocas. As dores de cabeça são frequentes. E agora mesmo acho que estou com pedra no rim pelo último ciclo de Creatina que tomei.

Quanto custam os produtos?

Se você vai 'ciclar' produtos orais, 80% deles são na faixa de R$ 150,00 a R$ 200,00 a caixa. Aí tem os injetáveis, sendo os mais conhecido que são o ciclo "feijão com arroz". Esses são em torno de R$ 18,00 a ampola. Tem também o 'Stanozolol', que tá muito na moda agora. É anabolizante animal e sai por R$ 190 a ampola com 30ml. Dá pra 1 mês.

Se arrepende?

Na sinceridade só tem dois produtos que eu me arrependo: o dianabol, que acabou com meu fígado, e o M-drol, que deixou meu sistema hormonal todo desregulado até hoje. Os outros, até onde sei, não me fizeram nenhum mal.