A calmaria em Horizonte, localizada a 42 kilômetros da capital cearense, foi quebrada com uma noite movimentada no dia 27 de abril. O time de futebol da cidade fez uma campanha histórica na Copa do Brasil, segunda competição mais importante a nível nacional, em dois confrontos inesquecíveis contra o Flamengo, pelas oitavas de final da competição.
A cidade do interior do Ceará entrou em festa desde a confirmação dos dois jogos. No primeiro, um resultado surpreendente no Rio de Janeiro iria fazer com que a equipe horizontina ganhasse a simpatia de todo o Estado. Um empate heróico e inesperado, com uma atuação sensacional, injetou otimismo na delegação do Galo do Tabuleiro, apelido carinhoso do time.
Foi difícil conter o êxtase e a ansiedade durante os dias que antecipavam o duelo decisivo. Nos treinos, o foco era tentar esquecer o grande jogo que viria pela frente, mas a badalação vinda por parte da imprensa nacional, que tentava conhecer um pouco mais daquele clube com apenas 7 anos de vida, tornava praticamente impossível deixar de lado o entusiasmo.
Como comandante, o técnico Roberto Carlos teve esse primeiro desafio pela frente: saber controlar o emocional de seus atletas. As palavras do treinador depois do bom resultado conquistado fora de casa sempre foram de cautela. Ele não cansou de frisar que a equipe carioca era a favorita, como o fez um dia antes do encontro no estádio Horácio Domingos de Souza, o Domingão: "Não existe vantagem. Vencemos apenas a primeira etapa de uma partida de 180 minutos. Temos que nos doar cada vez mais".
O espírito foi encorporado pelo grupo. Tanto que o meia Júnior Cearense, um dos jogadores mais experientes do Horizonte, mostrou que a equipe estava conseguindo controlar a ansiedade, afirmando que a do primeiro encontro havia sido muito maior: "Já estamos um pouco mais tranquilos, até porque é um jogo em cima do outro. A gente procura descontrair bem e esperar o momento do jogo. Tem até o friozinho na barriga, mas isso é normal do atleta".
Hora chegando
Junto com a tarde do dia 27 de abril, data marcada para o duelo no Domingão, uma grande mobilização passou a tomar conta da cidade. Os feirantes armavam as barracas nos arredores do estádio - prontos para adquirir um dinheiro a mais com o evento -, enquanto o público buscava garantir os últimos ingressos para assistir, direto das arquibancadas, o jogo batizado de encontro entre David e Golias, em referência à famosa passagem bíblica.
Para realizar um evento próximo da perfeição, várias reuniões foram realizadas entre os jornalistas da AD2M, responsáveis pelo atendimento da Prefeitura de Horizonte, com as pessoas diretamente ligadas à organização da partida. Os principais temas discutidos nos bastidores foram em relação a:
Imprensa
Acesso ao estádio
Localização das torcidas
Convidados
Camarotes
Vestiários
Outros pontos
Uma das iniciativas para motivar a população local a comparecer na praça esportiva era a estreia das líderes de torcida da equipe do Horizonte. Durante a semana, uma votação pela internet batizou as meninas de "Amarelinhas", em homenagem às cores do uniforme da equipe.
Quando os vazios do Estádio Domingão começavam a ficar preenchidos, para surpresa de muitos, o lado destinado para os fanáticos do Flamengo, conhecido por ter a maior torcida do Brasil, ainda possuia espaços vagos, ao contrário do setor do time da casa, completamente lotado. Uma das presentes no Domingão, Fernanda Brasileiro explica aquilo que seus olhos presenciaram naquela noite: "Foi muito bonito. Não imaginava jamais que o Flamengo um dia iria jogar aqui, ainda mais contra um clube novo como o Horizonte. O mais bacana é que o Galo contou com a torcida de todo o Estado".
O animado mascote atraiu a atenção de todos. O Galo batia as asas dentro de campo, distribuindo simpatia e conquistando, com bom humor, o apreço inclusive da imprensa, que de forma educada, em um espaço durante o trabalho, tentava um contato para tirar uma foto como recordação do boneco.
Por água abaixo
Mas o Flamengo logo demonstrou em campo o motivo pelo qual é um grande clube. A bola mal começou a rolar e, aos 8 minutos, após uma falha do goleiro Alex, o Rubro-negro carioca balançou as redes, calando o Domingão. Acuada, a equipe da casa não conseguia produzir e o otimismo inicial se transformou em desespero quando as jogadas ofensivas sequer levavam perigo.
Na segunda etapa, o Flamengo tratou de resolver o jogo e marcou mais dois gols, com Deivid e Willians, selando a vitória e desclassificando o Galo da competição. Mesmo assim, o encontro não sairá da memória deste grupo de jogadores do Galo, que dormiram com a conquista de um grande resultado, sonharam com a classificação, mas acordaram amargando o gosto da realidade: Flamengo é Flamengo.
Borderô da partida
Segundo números divulgados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dos 9.353 bilhetes a venda, foram comprados 5058 para a partida entre Horizonte e Flamengo, resultando em uma arrecadação de quase 150 mil reais. O público presente foi um pouco maior, visto que algumas entradas foram disponibilizadas por meio de cortesia.
Localização do Estádio Luiz Roberto de Sousa, o Domingão
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