quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Sociedade de Assistência aos Cegos e os bastidores da arte

por Mara Rebouças e Débora Correia


Artesãos na sala de Artes e Ofícios



Celso do Nascimento, 60 anos, participa da Oficina de Artes e Ofícios da Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC). Ele começou a freqüentar a instituição “com dois objetivos, primeiro matar a saudade de gente e segundo, ler”. Ele recorda que sempre andava com um livro. Quando ficou cego, o primeiro impacto que teve foi não poder mais ler.
Como o educador Louis Braille, que criou o alfabeto lido em todo o mundo por aqueles que têm deficiência visual, Celso do Nascimento não aceitou separar-se dos livros. Desde 2006, ele tem cegueira adquirida e há três anos participa das atividades interdisciplinares.


Nos bastidores


Celso do Nascimento explica o passo a
passo da produção artesanal

A oficina de arte é ministrada para até 8 alunos, das 8 da manhã até as 11 horas, pela professora Aurinete. Celso do Nascimento transforma folhas de revista em lustres, portas-jóia, vasos, peças de decoração e brinquedos. Com tanto desempenho artístico idealizou a exposição de brinquedos artesanais, que deve acontecer no mês de setembro deste ano. Parte deles já foram montados, mas o artesão prepara mais novidades até a data do evento.

A Sociedade de Assistência ao Cegos atende crianças e adultos, diariamente. Celso do Nascimento escolheu frequentar as oficinas quatro vezes por semana.
A professora Aurinete explica que a habilidade com a arte se processa pelo estímulo do tato. Ela dá noções técnicas, mas o trabalho de confecção dos artigos é mérito dos alunos, que escolhem tudo, desde o que vão confeccionar até a cor dada aos objetos. Como nos remete a palavra cego, originária do latim, no texto "O Deficiente Visual", apesar do aparente " obscurecer, escurecer" as atividades de artes e ofícios proporcionam o resgate da cidadania, um direito de todos.


O calendário de atividades


Josélia de Almeida fala sobre as atividades
da SAC


A Sociedade de Assistência aos Cegos realiza apresentações durante o Carnaval, a Semana Santa e as festas juninas, explica a coordenadora da instituição, Josélia de Almeida.
"Aqui eu faço teatro, eu faço música, eu sei dançar, eu ainda pego no braille e faço arte aqui com a minha professora Aurinete", relata Maria da Graça, 50 anos,que há 40 anos frequenta a instituição. A Paixão de Cristo, encenada todos os anos, na avenida Bezerra de Menezes, conta com a participação de Maria das Graças, como a personagem Verônica. O São João acontece nas dependências do Instituto Hélio Goes e, desta vez, ela é a noiva do casamento matuto. No Maracatu, ela completa as suas atividades artísticas participando do desfile de Carnaval.


Exposição de brinquedos acontece em
setembro

Histórico

A Sociedade de Assistência aos Cegos tem desde os frequentadores que entraram há pouco tempo e os que participam das atividades desde a fundação.
Há 40 anos, Maria da Graça chegou a instituição, "quando ainda era o Instituto dos Cegos", relembra.
Muitos anos antes, em 1942, a entidade foi fundada por iniciativa do médico oftalmologista Hélio Góes, em parceria com o Desembargador Eugênio Avelar Rocha e o Padre Arquimedes Bruno, o primeiro presidente da instituição. Era denominada Casa dos Cegos e se destinava a receber idosos, como "uma espécie de asilo", de acordo com a publicação do Jornal O Povo, de 1949.
Com quase 70 anos de fundação, a SAC conta com uma equipe interdisciplinar de Educação e Saúde. Presta atendimento a crianças e idosos, através da escola, do hospital e de oficinas artísticas. O Hospital Alberto Baquit Júnior foi criado em 1966. As atividades desenvolvidas visam resgatar a cidadania do deficiente visual pela arte.

Nos bastidores do Instituto Hélio Góes





A SAC realiza visitas guiadas
todas as quartas-feiras

A Sociedade de Assistência aos Cegos realiza visitas guiadas com agendamento prévio, no Instituto Hélio Góes.
Tudo começa na biblioteca com a exibição de um vídeo explicativo a respeito da SAC.
Estudantes de Psicologia, da Universidade Estadual do Ceará visitavam a instituição quando esta matéria era produzida. A sala de Artes e Ofícios é o primeiro espaço apresentado, após a brinquedoteca. O encantamento com o resultado dos trabalhos produzidos pelos artesãos se fez evidente entre todos. Eles seguiram o roteiro da visita, enquanto Celso do Nascimento e Maria da Graça contavam a sua história e expressavam o significado da instituição para as suas vidas. Eles demonstraram habildade e sensibilidade para desenvolver todo aquele trabalho manual a partir da sensibilidade do tato. São mãos que realizam arte.
A presidente da SAC, Josélia de Almeida ressalta o impacto das atividades de artes e ofícios para a superação do trauma da cegueira adquirida.
A procura é muito grande e existe todo um processo de admissão na entidade. A equipe interdisciplinar, a partir de um diagnóstico do oftalmologista, avalia o estágio de cegueira e encaminha o paciente de acordo com as necessidades pessoais. A professora Ana Paula garante, ninguém fica sem assistencia.

Serviço

Para conhecer a Sociedade de Assistência aos Cegos, entre em contato com a instituição pelo número 85 3281-0811.Para chegar a Sociedade de Assistência aos Cegos visualize o mapa a seguir


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